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Fico com medo de esquecer algumas lembranças

Tenho medo de esquecer algumas lembranças. Seja por conta de outras questões que dominam meu dia, seja por uma espécie de “autoproteção”, eu acabo evitando certas recordações. De tanto fugir, porém, sinto que as lembranças de alguns momentos ficam distantes, não só no tempo, mas também na memória.

Então, eu recorro às fotografias, que servem para resgatar pessoas e momentos. É um bom exercício para lembrar de sensações e momentos bons — qualidade que se adquire com o passar do tempo. As lembranças são o que fazemos delas.

Os últimos meses de convivência com meu pai me trouxeram de volta vários outros momentos que vivemos juntos. Não só os bons, vale dizer, mas os ruins também, que fazem parte da vida de qualquer pessoa.

Lembro, por exemplo, de quando consegui meu primeiro emprego há exatos dez anos. Na clássica Rua Direita, liguei para o meu pai para avisar da novidade. Poderia ter contado pessoalmente depois, mas queria avisar logo. Eu estava feliz, e ele também. Como quando, anos depois, fomos a um estádio de futebol pela primeira e única vez juntos. Não deu tempo de ir ao estádio do time dele.

Há uma parte de mim que me diz que eu tenho que focar no que foi vivido. Qualquer outra coisa só me fará mal. Do que adianta pensar que não fomos ao Allianz Parque, como ele me pediu durante o tratamento, ou que ele não verá casamento meu ou conhecerá seu(sua) neto(a), ambos hipotéticos?

Volto no tempo e lembro de meu pai me levando e trazendo da escola. São várias lembranças, como a do meu primeiro dia de aula da vida, passando pelas voltas para casa e ele me comprando um pastel, e das reuniões de pais e eventos da escola.

Fico feliz quando lembro dele emocionado durante minha colação de grau na faculdade de jornalismo (naquele que foi o dia mais importante da minha vida). A foto do perfil do WhatsApp dele é a que tiramos na rodoviária antes de eu voltar para São Paulo quando fui visitá-lo. Ele tinha orgulho de mim e da minha irmã. Somos, para sempre, os dois filhos de Francisco.

Meu pai era trabalhador e, junto com minha mãe, criaram dois grandes filhos. 

Lembrarei dos momentos com carinho. E da certeza de que, como diz a música, mais que seu filho, eu virei seu fã.


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