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Uma noite de outono

São Paulo é uma cidade que dorme cedo. Os atendentes dos bares vão, aos poucos, tirando os últimos copos, mesas e cadeiras e dando sinais não muito sutis aos que ficam de que é hora de fechar a conta. Ali, as conversas, os flertes e debates precisam se encaminhar aos respectivos epílogos. 

Aqueles com mais energia, é bem verdade, ainda se aventuram em locais em que a música e as bebidas não têm hora para acabar. São os popularmente conhecidos como os “inimigos do fim”.

E é nesse contexto que as noites paulistanas vão caminhando. É uma cidade que, como cantada por Criolo, tem bares cheios de almas tão vazias.

Mas é tudo uma questão de perspectiva. Há amor. Principalmente quando se está apaixonado. Quando isso acontece, os risos, as músicas, os abraços e as conversas ficam mais bonitos, gostosos e marcantes.

Tão marcantes que se tornam inesquecíveis. Daqueles momentos que a gente lembra em cada detalhe. Para ser relembrando naquelas histórias sobre o passado, que contamos com nostalgia: “era uma noite de outono. Fazia frio. Ela falava e eu sorria. Eu falava algo engraçado, e ela correspondia rindo. Aquele gostoso riso”.

Entre garrafas e copos em cima da mesa, a conversa fluía e o tempo passava. Até chegar nossa hora de ir embora.

Nos filmes românticos clichês, aqui pode ser considerado o momento alto da história. Em que os protagonistas se beijam e seguem juntos construindo algo para sempre. Mas é vida real. E é São Paulo, a que dorme.

E aí que você entende que, na verdade, esta é a realidade da sua vida e da sua São Paulo.

Amigo e amiga que me lê até aqui, a noite ainda continua bonita, confesso. Sigo para casa lembrando do olhar dela, da linda cor de cabelo que me lembra o outono — minha estação preferida —, e de como a nossa noite foi agradável. Avisamos um ao outro que estamos em casa e deixamos a mensagem protocolar dizendo que estamos ansiosos por uma próxima vez.

E isso se torna um padrão. É como se a vida fosse o atendente do bar indicando que a boa conversa precisa terminar logo e que suas expectativas de felicidade eterna irão acabar.

Enquanto os outros bares continuam abertos. E você, decepcionado, percebe que aqueles olhos que lhe sorriram estão reservados a outra pessoa.

Não vou e nem quero desistir, amigo e amiga. Haverá outras noites, estações e encontros. Até lá, vou lembrar com saudades dos momentos e fotos daquela noite.

Na esperança de que os momentos agradáveis sejam muitos. E que sejam inspiradores. Como o outono.



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