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Amor covarde

Sem nenhuma vergonha, eu assumo: meus textos têm sido clichês. As situações aqui descritas não são exclusividades minhas, tampouco algo particular do nosso tempo. Sofrer por amor é mais antigo do que andar para frente. Eita! Outro clichê. É inevitável. Mas venho, humildemente, pedir ao caro leitor e à cara leitora que, por favor, relevem. É a minha única forma de expor os meus sentimentos, já que ainda não tomei coragem de falar de outra forma.

A "outra forma", no caso, é a popular e historicamente consagrada que é a “falar com a pessoa que se gosta”. Mas, porém, contudo, todavia... O problema da nossa geração – a que tem mais fácil acesso às ferramentas de comunicação –, é, ironicamente, a falta de comunicação. Para demonstrar interesse, temos usado como refúgios o abstrato. A curtida em um story é o equivalente na vida real à troca de olhares; a reação a um story é o "pagar a bebida em um bar". 

E vai bem além disso, nos cenários mais absurdos que a tecnologia permite. Eu quero destacar que há ainda um ‘porém’: essas situações são consideradas abstratas porque não necessariamente sempre significam o interesse. É e, ao mesmo tempo e quase sempre, não é. 

Amigos e amigas, é difícil compreender, entendo. Se você chegou até aqui, preciso dizer que estes são sinais contemporâneos, formados por pessoas ansiosas, que convivem com pressões sociais que vão além do seu ciclo local (são pressões que vêm, diga-se, de todo o planeta) e da “necessidade” de ser popular. 

São muitas coisas para lidar. E a possibilidade de levar um fora é uma dor que nós, os ansiosos e inseguros, queremos evitar. Como li num livro certa vez, não tem nada disso de "ah, da sua boca ouviria as piores notícias". Não mesmo. 

Neste momento, sou mais da turma das músicas do Lulu Santos. O que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber. Ou melhor, há os que sabem. Exceto "a" pessoa. Aquela que eu vejo as nossas conversas e fotos de momentos felizes e abro um sorriso. A que eu, como um louco, vejo insistentemente suas novas publicações.

É um amor covarde. O que é contraditório. O amor que é amor, na realidade, não pode ser covarde. Ele precisa ser vivido, celebrado e exposto. Afinal, é amor. Amor acolhe, cuida e respeita. Não machuca.

O subentendido é uma proteção, que na prática acaba machucando. Quando imaginamos e sonhamos com o potencial de um amor, o não dito acaba sendo, na verdade, um tirano que não nos permite ser felizes. Somos prisioneiros de nós mesmos.

Porque não sabemos como o outro lado vai reagir. Por amar em silêncio e calado, só um lado sofre. O outro, ao mesmo tempo, ama e é amado por outro. Porque ela é linda e merece aproveitar e ser feliz.

Tem certas coisas que eu não sei dizer.



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