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Fico com medo de esquecer algumas lembranças

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Tenho medo de esquecer algumas lembranças. Seja por conta de outras questões que dominam meu dia, seja por uma espécie de “autoproteção”, eu acabo evitando certas recordações. De tanto fugir, porém, sinto que as lembranças de alguns momentos ficam distantes, não só no tempo, mas também na memória. Então, eu recorro às fotografias, que servem para resgatar pessoas e momentos. É um bom exercício para lembrar de sensações e momentos bons — qualidade que se adquire com o passar do tempo. As lembranças são o que fazemos delas. Os últimos meses de convivência com meu pai me trouxeram de volta vários outros momentos que vivemos juntos. Não só os bons, vale dizer, mas os ruins também, que fazem parte da vida de qualquer pessoa. Lembro, por exemplo, de quando consegui meu primeiro emprego há exatos dez anos. Na clássica Rua Direita, liguei para o meu pai para avisar da novidade. Poderia ter contado pessoalmente depois, mas queria avisar logo. Eu estava feliz, e ele também. Como quando, anos dep

Aplicativos de relacionamento ignoram os tímidos

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Aplicativos de relacionamento não são para todos. Ao contrário do que se deduz, as ferramentas que têm por objetivo aproximar pessoas, seja na paquera ou mesmo para novas amizades, não democratizam os relacionamentos. Pelo contrário. Tinders, Bumbles, Hapnns e variações servem apenas para um público que normalmente já se dão bem na vida "offline". Para quem nunca teve curiosidade de baixá-los, os aplicativos que "facilitam" o xaveco são simples. Basta ter conexão à internet e falta de amor-próprio para se dispor a ser um figurativo produto de alguma prateleira de mercado. Ao baixar o aplicativo, o usuário deve selecionar suas melhores fotos, que devem dizer algo sobre você e seus gostos, e colocar uma autobiografia. Para a turma do "quem se descreve se limita", para os modestos ou mesmo para os de baixa autoestima, é uma tarefa difícil e angustiante, afinal, é a partir dessa publicidade que suas futuras conversas irão partir.  Os desafios começam logo no c

Uma história de quem vigia

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Por onde ela anda? Passados quase dez anos, só sobraram as minhas lembranças, que começam antes de nos conhecermos. Nossas histórias se cruzaram no meu primeiro ano após terminar o ensino médio. Ambos estávamos entrando no mercado de trabalho. Ela, confiante na profissão que iria seguir, e eu, desiludo pelos rumos que minha vida estava tomando. Ela, bolsista de uma das maiores faculdades do país, e eu, sem esperanças nem dinheiro para entrar numa boa faculdade. Aos olhos da história, dez anos é pouco tempo, mas na rapidez com que a tecnologia está evoluindo, cada pequeno período representa grandes mudanças. Tanto que as redes que ficaram famosas por conta dos dispositivos móveis começaram a se popularizar naquela época, tomando lugar das redes mais antigas, como o Orkut e o Facebook. Adicionei-a no Facebook, apenas. Dávamo-nos bem, pois, entre os motivos, eu sempre gostei de política e ela fazia um curso que tem isso como base. Conversávamos sobre as novidades de um Brasil cheio de pro

Pontos finais e definições

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Em uma sessão de terapia, minha orelha foi puxada. “Alan, as suas histórias de amor têm algo em comum: elas não possuem um final. Todas são um ponto de interrogação”.  A minha primeira paixão, a colega de escola, a vizinha, as amigas de curso e de faculdade, a conhecida em um evento, a crush do trabalho…   É verdade. Pois bem. Venho com uma conclusão. Acompanhada de clareza e figurativos tapas na cara.   Clareza no sentido de entender que nem sempre aquilo que idealizamos é verdade.   “Tapas na cara”, pois não podemos criar expectativas. É preciso dar adeus àquilo que nos prende e que não nos deixa evoluir. Não vou dar adeus a estas humildes escritas, por exemplo. Afinal, este é o espaço que faz com que meus devaneios tolos se tangibilizem. Isso é bom. Não é?   Por isso, esclareço àqueles que acompanham meus lamentos. Dar-lhes-ei conclusões. Caro leitor, gostaria, antes, de expor um alerta: se você espera por finais felizes, o desfecho aqui posto pode ser frustrante.   Tudo

Amor covarde

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Sem nenhuma vergonha, eu assumo: meus textos têm sido clichês. As situações aqui descritas não são exclusividades minhas, tampouco algo particular do nosso tempo. Sofrer por amor é mais antigo do que andar para frente. Eita! Outro clichê. É inevitável. Mas venho, humildemente, pedir ao caro leitor e à cara leitora que, por favor, relevem. É a minha única forma de expor os meus sentimentos, já que ainda não tomei coragem de falar de outra forma. A "outra forma", no caso, é a popular e historicamente consagrada que é a “falar com a pessoa que se gosta”. Mas, porém, contudo, todavia... O problema da nossa geração – a que tem mais fácil acesso às ferramentas de comunicação –, é, ironicamente, a falta de comunicação. Para demonstrar interesse, temos usado como refúgios o abstrato. A curtida em um story é o equivalente na vida real à troca de olhares; a reação a um story é o "pagar a bebida em um bar".  E vai bem além disso, nos cenários mais absurdos que a tecnologia per

Uma noite de outono

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São Paulo é uma cidade que dorme cedo. Os atendentes dos bares vão, aos poucos, tirando os últimos copos, mesas e cadeiras e dando sinais não muito sutis aos que ficam de que é hora de fechar a conta. Ali, as conversas, os flertes e debates precisam se encaminhar aos respectivos epílogos.  Aqueles com mais energia, é bem verdade, ainda se aventuram em locais em que a música e as bebidas não têm hora para acabar. São os popularmente conhecidos como os “inimigos do fim”. E é nesse contexto que as noites paulistanas vão caminhando. É uma cidade que, como cantada por Criolo, tem bares cheios de almas tão vazias. Mas é tudo uma questão de perspectiva. Há amor. Principalmente quando se está apaixonado. Quando isso acontece, os risos, as músicas, os abraços e as conversas ficam mais bonitos, gostosos e marcantes. Tão marcantes que se tornam inesquecíveis. Daqueles momentos que a gente lembra em cada detalhe. Para ser relembrando naquelas histórias sobre o passado, que contamos com nostalgia:

A um homem maduro

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Há um tempo, eu recebi uma crítica bastante sincera que me marcou profundamente. A pessoa que foi a autora desse comentário, provavelmente, não saiba o quanto minhas atitudes mudaram tentando não dar motivos para falarem algo nesse sentido novamente. Num determinado contexto, me chamaram de imaturo. Como assim? Logo eu, alguém querido por quase todos, elogiado desde cedo por ter uma postura focada e tudo mais…? (Nota: há um exagero meu na escrita dessa última frase). Não aceito! (Isso é muito coisa de ariano, meu) Vale mais uma nota: desconsidere neste momento, caro leitor e leitora, se a crítica foi ou não justa. Mesmo que seja, vou focar num outro ponto de vista neste texto. Fim da nota.  Desde então, minhas posturas em relação a desafios, demandas e simples coisas do cotidiano estão pautadas em alguns alicerces: estou sendo maduro o suficiente? Responsável? Justo? Honesto com as pessoas ao redor? Como as pessoas se sentirão em relação a isso? E aí, sigo, com certo orgulho da tal vir